sábado, 23 de outubro de 2010

MÍDIAS E EDUCAÇÃO: UMA INTERAÇÃO NECESSÁRIA

“Debemos aprender junto con los jóvenes la forma de dar los próximos pasos. Pero para proceder así debemos reubicar el futuro. Ajuicio de los occidentales el futuro está delante de nosotros. A juicio de muchos pueblos de Oceanía el futuro reside atrás, no adelante. Para construir una cultura en la que el pasado sea útil y no coactivo, debemos ubicar el futuro entre nosotros, como algo que está aquí, listo que para que lo ayudemos y protejamos antes de que nazca, porque de lo contrario sería demasiado tarde” Margaret Mead

Este trabalho tem por objetivo ampliar a abordagem sobre os questionamentos acerca da necessidade do uso das tecnologias de informação e comunicação na esfera educacional, propondo uma reflexão crítica partindo do princípio que a utilização dessas tecnologias faz-se necessária, pois além de suas atualizações acontecerem de forma acelerada deixando os usuários aptos e inaptos preocupados em acompanhar essa atualização atualizando-se, trata-se de um caminho sem volta. Através de conceitos extraídos de estudos de diversos autores preocupados com o objeto da comunicação, a proposta aqui pretende apenas justificar a utilização das mídias nos espaços educativos, tradicionais ou inovadores, formais ou informais, por um processo de sensibilização dentro dos limites destas páginas e de temas relacionados ao assunto, partindo do sujeito como integrante da sociedade até sua responsabilidade como professor/educador em transmitir ou mediar conteúdos para a formação do aluno/cidadão.

O SUJEITO E A SOCIEDADE

Para que o indivíduo se reconheça como um sujeito ativo e responsável dentro da sociedade, faz-se necessário que compreenda melhor o meio em que vive, percebendo sua participação e a importância de suas ações. Para Mills, a sociologia, através da imaginação sociológica, contribui para esse objetivo, salvando-o da angústia e da indiferença, capacitando-o a compreender o cenário histórico mais amplo, entendendo seu significado na sociedade, dando-lhe uma qualidade de espírito que o ajude, através da razão, a compreender o que acontece ao seu redor. A imaginação sociológica teria como função capacitar o sujeito para compreender e distinguir as perturbações sociais, ele enquanto indivíduo dentro de um processo de socialização (Mills, 1965). Como processo dinâmico, a socialização tem como características suas constantes modificações, devido às alterações culturais com reflexões nas diversas instâncias socializadoras.

A família, dentro da socialização primária de Berger, “realiza assim o que pode ser considerado o mais importante embuste a que a sociedade submete o indivíduo, ou seja, fazer parecer necessidade o que de fato é um amontoado de contingências, tornando assim significativo o acidente que é o seu nascimento” (Berger, 1966). Sem poder de negociação, a criança serve como um depósito de informações, sem questionamentos, iniciando o preenchimento daquilo que seria sua bagagem cultural, paralelamente a seu contato com o processo secundário de socialização: a escola e a mídia.

MÍDIAS E TECNOLOGIAS: MATRIZES DE SOCIALIZAÇÃO

O processo de socialização do indivíduo compõe-se pela escola e principalmente pela mídia. Desde os anos 70, a sociedade brasileira vem sofrendo um processo de socialização com uma participação mais ativa da mídia devido aos meios de comunicação de massa, chamado por Morin de Terceira Cultura (Morin, 1984). Com esse aumento da força das mídias, as instâncias tradicionais de socialização, como a família e a escola, entram em crise, pois começam a perceber a interferência maior das mídias, principalmente da TV, na formação cultural do indivíduo. Conforma afirma Maria da Graça Setton:

“Desde muito cedo, a criança aprende a conviver e a conciliar uma variedade de informações e tecnologias passando a acumular conhecimentos vindos não só de seu ambiente próximo, (...) mas sobretudo pelos apelos produzidos pelas mídias. (...) Estes novos conhecimentos são adquiridos de maneira não presencial, são adquiridos virtualmente a partir do uso freqüente de novas tecnologias.”

(Setton, 2002)

Setton nos diz que a mídia, sendo uma matriz de cultura, produz sentidos e símbolos com a capacidade de propor e impor significados. E, enquanto mídias, entenda-se as diversas tecnologias de informação e comunicação, que com o surgimento da internet e posteriormente da web, entre os anos 60 e 90, potencializaram o uso de tecnologias cada vez mais avançadas, provocando o uso dessas mídias nos diversos espaços culturais e educacionais. Eugenio Trivinho diz que a noção de cibercultura nomeia essa fase da civilização tecnológica, não marcando uma nova era, mas acima de tudo confundindo-se com ela, influenciando o universo simbólico e imaginário das pessoas (Trivinho, 1999). Instalada as tecnologias no nosso meio familiar, na escola, no trabalho, enfim, no nosso cotidiano, fica a pergunta: Como podemos utilizar essas novas ferramentas como auxiliares na formação cultural do indivíduo? Chegamos ao ponto em que não cabe mais a pergunta se devemos ou não utilizar a tecnologia, mas sim, como devemos utilizá-la.

PROFESSORES: PRINCIPAIS MEDIADORES

Ensinar é transmitir conhecimentos. Educar é compartilhar conhecimentos. A escola, enquanto instituição responsável pela formação educacional das crianças e jovens, tendo conhecimento da crescente presença dos meios de comunicação de massa dentro das tecnologias de informação e comunicação (TICs), deve assumir o papel de mediadora entre o aluno e as mídias, pois cabe aos partícipes do processo de educar assumir essa responsabilidade trazendo à escola aquilo que Rodriguez Illera chama de Ecosistema comunicativo (1988), pois a formação não se tornará completa. Novos ambientes de aprendizagem se formam com o crescimento das tecnologias aplicadas à educação: educação on-line, educação à distância e e-Learning. Os desafios estão propostos. Guillermo Orozco Gomes, Professor-Doutor do Depto. de Comunicação da Universidade de Guadalajara, no México, propõe um jogo de mediação entre os meios de comunicação de massa (MCM), as instituições educativas e os processos de recepção de mensagens que envolvem nossos estudantes. No entanto, faz-se necessário destruir alguns estereótipos e preconceitos, dentre eles o de ver os MCM como vilões e culpar sempre a tecnologia como desviadora do objetivo que é educar, não abrindo a discussão de como utilizá-la, a legitimidade da educação apenas por parte da escola e favorecer completamente a mensagem como única estimuladora da aprendizagem, ignorando o processo de recepção. (Orozco Gomes, 1993)

Ampliam-se as iniciativas com o objetivo de potencializar a figura do professor para que esteja cada vez mais preparado para o uso das TICs, passando de mero retransmissor de conteúdo para um sistematizador de experiências (Barbero, 1996). A Universidade de São Paulo, através da Escola de Comunicação e Artes, inicia neste ano de 2010, a graduação na área de Educomunicação, propondo um novo profissional que seja capaz de coordenar projetos inter-relacionando os campos de comunicação e educação, o Educomunicador (Ismar Oliveira, 1999). As redes de televisão educativas nos Estados, iniciativas de redes privadas, o Ministério da Educação e outros mantém também projetos para a capacitação de professores e alunos através de sites na internet, apontando uma convergência entre as mídias que influenciará na Educação nos próximos anos, seja ela presencial ou à distância.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ignorar o fato e a necessidade das tecnologias aplicadas à educação é assumir a falta de comprometimento com os alunos e, consequentemente, com o futuro, seja por parte da gestão ou do professor. Educação é comprometimento e comprometer-se é, além de possuir e compartilhar conhecimentos, atualizar-se para saber como mediar a educação entre todas as matrizes culturais, principalmente as mídias de comunicação de massa, evitando que o educador sofra uma obsolescência com relação às tecnologias, perdendo credibilidade e legitimidade no seu discurso. Cabe aos educadores fazer com que o ambiente escolar se torne dinâmico e atrativo, aumentando o interesse por parte do aluno e reduzindo a evasão escolar, e as tecnologias, inerentes a esse processo, devem ser trazidas para o ambiente educativo. Tecnologias, sejam tradicionais (jornais, rádio e revistas) ou as mais modernas (iPods, celulares, ebooks), para que sejam experimentadas e adequadas ao processo de aprendizagem.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educ. Pesqui. [online]. 2003, vol.29, n.2, pp. 327-340.

BARBERO, Jesús Martin. Heredando el futuro. Pensar la educacion desde la comunication. Nómadas. Bogotá, DIUC, 1996.

http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/29.pdf

ILLERA, J. L. Rodríguez (Comp.). Educatión y Comunicatión, Paidós, Barcelona, 1988.

MEAD, Margaret, Cultura y compromiso. Granica, Buenos Aires, 1971.

MILLS, Wright. A promessa. In: A imaginação sociológica. Ed. Zahar: Rio de Janeiro, 1964.

OROZCO GOMES, Guillermo. Professores e Meios de Comunicação: desafios e estereótipos. Comunicação & Educação. São Paulo: ECA/USP/Moderna, nº. 10, 1997.

SETTON, Maria da Graça. Mídias: uma nova matriz de cultura. In Educação e Mídia: um diálogo para educadores. São Paulo, Editora Contexto, 2010.

SETTON, Maria da Graça. Família, escola e mídia: um campo com novas configurações. In Educação e Pesquisa, Revista da Faculdade de Educação da USP, vol28, n/01. Pp 107-116. 2002.

SOARES, Ismar. O perfil do educomunicador.

TRIVINHO, Eugenio. O mal estar da teoria: a condição da crítica na sociedade tecnológica atual. Rio de Janeiro, Quartet: 2001. Capítulo “Lógica da cibercultura”.

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